quarta-feira, 10 de agosto de 2011

PORTUGAL NA GRANDE GUERRA ( 1ª GUERRA MUNDIAL)

Portugal na Grande Guerra
A última carícia antes da partida
 para a frente de guerra na Flandres,
 em França, numa das fotografias mais icónicas
 da participação portuguesa na Grande Guerra

Portugal era, no início do século XX, uma pequena potência com um vasto império colonial, incompletamente ocupado e imperfeitamente explorado, mas cobiçado por potências mais fortes (Inglaterra, França e Alemanha), que secretamente se entendiam no sentido de redesenharem o mapa de África de acordo com os seus interesses. Quando, em 1914, é desencadeada a Primeira Guerra Mundial, os políticos portugueses entenderam que a via mais consentânea com a defesa da integridade do império era a participação no conflito, ao lado da Inglaterra (tradicional aliada que era simultaneamente uma séria concorrente, como se vira na questão do Ultimato inglês). A entrada na guerra proporcionaria a Portugal um lugar à mesa das negociações, em posição de obstar à partilha dos territórios coloniais entre outras potências.
Portugal entrou, assim, oficialmente na guerra em Março de 1916, embora já se tivessem travado combates de maior ou menor envergadura nas fronteiras coloniais de Angola e Moçambique, em áreas disputadas por forças alemãs. Essa guerra surda, longe dos grandes centros de decisão, não concedia a Portugal uma posição de suficiente destaque para a defesa dos seus interesses em matéria colonial; era necessário entrar no conflito no teatro de operações europeu, o que foi feito em concerto com a Inglaterra e a França.
A política de defesa colonial era a que maior consenso obtinha junto da opinião pública portuguesa, mas não era a única justificação real para a participação no conflito e para privilegiar o teatro de operações europeu. Na verdade, a República temia a política anexionista de alguns sectores de grande peso na vizinha Espanha (que, em 1911-1912, apoiara as incursões restauracionistas). Colocando-se ao lado da Inglaterra, Portugal poderia assim melhor preservar a sua independência e identidade dentro da Península Ibérica. A estas razões de ordem estratégica e de política internacional deve acrescentar-se o intuito de garantir a unidade da opinião pública em apoio do novo regime político, ainda mal consolidado, assim conseguindo a sua legitimação.
A participação militar portuguesa no teatro de operações europeias fez-se sob a forma de um Corpo Expedicionário, adestrado sob a direcção do ministro da Guerra Norton de Matos. Foi tal a rapidez do processo de mobilização e instrução que se lhe passou a chamar "milagre de Tancos". Este Corpo, que englobava uma força de artilharia e brigadas de infantaria e pelo qual passaram dezenas de milhares de homens, participou nalgumas das batalhas mais cruentas da guerra, nomeadamente em La Lys, integrado num sector da frente sob comando inglês (o que foi causa de alguns atritos, pois a autonomia do comando português esteve várias vezes em perigo de desaparecer).
O saldo da participação portuguesa na guerra foi bem pesado: 35 000 baixas, número elevadíssimo de feridos e doentes (mutilados, gaseados e tuberculosos), perda de navios mercantes e de guerra imperfeitamente colmatada por vasos da frota alemã apreendidos durante o conflito, agravamento da debilidade económica e dos problemas sociais.

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